Dia 12

Diego Paiva
5 min readJun 13, 2023

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“Pergunte pr’o seu Orixá
O amor só é bom se doer”
(Canto de Ossanha)

Essas datas comemorativas fazem o comércio arrecadar muito, mas me fazem pensar muito também.

E nesse dia 12, na real desde a semana passada, tudo que eu venho pensando é sobre amor. E concordo com Baden e Vinícius quando fizeram essa. Amor só é bom se doer, mas o meu aprendizado me fez ver que isso não é de todo ruim.

Amar é antes de mais nada a forma mais intensa de empatia. O amor não mora no coração como romantizam os poetas. Mora na cabeça, mais especificamente nos neurônios responsáveis pelo departamento de desgraçamento mental. O amor é aquele cachorro fofo, dócil, que demanda atenção, chora se não for alimentado e invariavelmente come seu sofá e faz cocô no seu tapete. Mas é atualmente a melhor forma que os seres humanos acharam para se relacionar. Ou a menos pior. Enfim, é o que tem pra hoje.

Amar alguém é um compromisso que você faz não com uma pessoa, mas com você mesmo, daí nasce o poliamorismo, a paixão platônica e os crimes passionais. Quando assumimos que amamos alguém assumimos para nós mesmos que aquela pessoa (ou pessoas) tem um grau de importância na nossa vida. Nós a queremos por perto.

E aí entra a problemática da situação. Amamos tanto às vezes que ignoramos os defeitos, ignoramos os problemas, ignoramos os abusos que as pessoas cometem. Mas ao mesmo tempo, amamos tanto que não percebemos os defeitos que esfregamos na cara das pessoas, os problemas que metemos as pessoas e os abusos que causamos nas pessoas. Ficamos cegos quanto a isso, e você achando que a frase “o Amor é cego” envolvia só beleza, né? Isso tudo porque o Amor não tem qualquer compromisso com a realidade, quiçá com o objeto do amor.

“Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor
Vai! Vai! Vai! Vai!
Não Vou!”

Eu não sei se é a criação, a personalidade, o signo de Sol em Câncer com Vênus em Câncer ou se é tudo isso misturado, mas o fato é que eu sou uma pessoa capaz de amar, amar fácil, simples. Às vezes acontece algo e eu percebo que que já amava a pessoa faz um tempo. Às vezes o Amor é como um batida estrondosa entre dois ônibus ressoando pelo túnel Rebouças. Às vezes eu faço umas comparações esdrúxulas envolvendo veículos de transporte público também. Abstrai.

Mas o fato é que que por ser como sou eu sempre fui muito mais de namorar do que de ser solteiro. Entre setembro de 2005 e Março de 2014 eu nunca fiquei mais do que cinco meses solteiro. Namoros sérios, de botar nas redes sociais e conhecer os pais. Se conheceu os pais é sério (eu acho). Quando esse último relacionamento terminou eu tomei a decisão de que eu deveria ficar sozinho um tempo, que eu vivia muito apegado as pessoas, deveria ser mais solto (agora eu tô reparando na semântica solto/solteiro). Não deu nem Agosto de 2014 e eu já estava apaixonado de novo. Não foi a única vez.

Nesses últimos três anos e dois meses de solteirice eu nunca deixei de amar, mas a forma de lidar com isso mudou. E o mais engraçado é que não sei dizer se mudou para melhor ou pior, apenas mudou: Eu me apaixono com a mesma intensidade, mas descobri que esse amor tem a ver muito mais comigo mesmo do que com o outro. Eu sofro por amor como qualquer ser humano em pleno funcionamento das faculdades morais, mas entendo que não é exatamente uma escolha consciente, é simplesmente uma sintonia entre o que você busca (seja por desejo ou necessidade) e o que a pessoa é.

E se não tem um pingo de lógica o mais sensato e tranquilizador é assumir para você mesmo que você ama e isso aí. A montanha russa já está no topo da ladeira, você só pode escolher se vai se divertir com a adrenalina do medo ou se vai se cagar nas calças por causa dele.

“Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou
Não!
Eu só vou se for prá ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor”

É óbvio que tudo que estou falando e vivi tem um ponto de vista específico. Eu sou um homem branco, de classe média, com formação escolar e morador de uma cidade ocidental grande e famosa mundialmente. Eu nunca passei por um relacionamento que eu fosse economicamente dependente da outra pessoa para ter que engolir abusos como milhões de mulheres no mundo. Eu nunca fui obrigado a um relacionamento por causa de acordos da minha família. Eu nunca precisei esconder um relacionamento por conta de discriminação sexual.

E dentro desse contexto posso dizer que todos os meus relacionamentos deixaram alguma coisa de bom. Claro que términos causam raiva, culpa, tristeza etc. Mas baixada a poeira eu posso olhar para trás e ver que todas as pessoas que passaram na minha vida só somaram, mesmo com as crises inerentes desse gremilin molhado chamado Amor. Como a ex que só precisou de quatro dias depois de nosso primeiro encontro para começarmos a namorar e o relacionamento durou quatro anos e meio. Como dizer que deu errado? Porra, deu certo por quatro anos e meio! Tem a pessoa campineira que nos dois anos que estivemos juntos foi a que mais me ensinou a acreditar em mim mesmo, que me deu coragem a voltar a tentar uma graduação. Tem a outra pessoa doce que pegou aquele calouro dela em frangalhos e por sete meses deu um carinho que ele jamais imaginaria.

E não precisamos falar só sobre namoros, tem os amores que são fortes independente disso. A bailarina de sobrenome famoso que teve a coragem de dizer que amava. Aquela moça que conheci por um acaso, que não acreditei que queria algo comigo e que um AVC levou embora um ano depois. E aquela baixinha, de pele branca, que sabe me analisar como ninguém e que nunca soube que assim que descobri que o toque dela quando eu enviava mensagem era diferente fiz o mesmo e ela tinha um toque exclusivo aqui também.

Amei e amo todas essas pessoas.

Sofri também, mas isso é bom. Mostra que estamos vivos, que temos caráter, que somos humanos. O contrário de Amor nunca foi e nunca será Ódio. O ódio é só uma face do Amor. O contrário de Amor é indiferença.

Feliz dia dos namorados pra quem é de namorados.

Feliz dia do Amor pra quem é de Amor.

Feliz dia de sofrer pra quem é de sofrer.

[escrito originalmente em 2017]

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Depósito de textos antigos e novos. Sem ordem cronológica, sem ordem temática, sem ordem de forma geral

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