Diego Paiva
2 min readJan 26, 2020

Escalada

Eu não consigo calcular quanto tempo faz que você subiu a montanha. Nem você, provavelmente. Estimei três dias, depois três semanas, três meses e parei em três anos. Se eu continuar associando o tempo com a ordem de grandeza do que sinto acho que nem as montanhas estavam formadas nesse período. Mas uma coisa é importante dessa sua escala: Você me ensinou a prestar atenção nas montanhas.

Uma coisa que observei nisso é que além da óbvia diferença de altura que as montanhas tem entre elas — é só medir — eu percebi também que elas tem formas que as facilitam e as dificultam independente da altura que elas tem. O Morro da Urca é grande mas sua forma permite que alguém tão desajeitado como eu consiga chegar no topo. Já duas ruas de distância da minha casa tem um morrinho que não tem nem 1% da altura do Morro da Urca mas que é tão íngrime, tão vertical e agressivo que não existe a mínima possibilidade de superar o barranquinho. Se minha vida dependesse de superar esse barranquinho bom, eu não teria mais nada.

Foram os formatos das Termópilas que permitiram um pequeno destacamento enfrentar o maior exército da Antiguidade. As montanhas protegem mas também atacam. São elas que se desprendem e rolam em nossas direções. A neve só é neve: Quem faz as bolas de neve são as montanhas. É olhando isso que aprendi a respeitar montanhas, mas também de me ver impotente a certos tipos delas. Tem montanha que por mais bonita que seja a vista — eu juro que a vista ser bonita é uma certeza absoluta que tenho — não é a grande altura que não me faz chegar no topo. É a forma.

E daí tem vezes que a gente fica vendo aquele topo, tão perto, tão longe. E vê o quão intransponível ele é.

Eu admiro muito a sua capacidade de escalar montanhas. Espero que um dia você tenha a mesma capacidade de descer delas.

Diego Paiva
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