O Papa-Léguas não existe

Todos conhecem a clássica cena. O Coyote acha uma formação rochosa onde com sua tinta ACME pinta um túnel. A perspectiva daqueles traços em 2D não nos permite perceber que é uma parede. É, de fato, um túnel.

Todo esse ardiloso plano tem um único objetivo: capturar o Papa-Léguas. Após meticulosamente pintar um túnel falso na pedra, o Coyote quer enganar o Papa-Léguas, quer o pobre coitado batendo na pedra em alta velocidade e finalmente sendo capturado. O Coyote se esconde.

Todos conhecem essa cena clássica. O Papa-Léguas faz “beep beep” ao longe, chega aceleradíssimo e vai com tudo em direção ao túnel falso. E ele entra e segue, para logo depois um intrigado Coyote tentar fazer o mesmo e se esborrachar na pedra.

Se o Papa-Léguas consegue entrar no túnel falso criado pela imaginação do Coyote então só há uma única explicação: Ele é tão (ir)real quanto o túnel. Tanto aquele túnel pintado quanto o Papa-Léguas pertencem ao mesmo não-lugar da realidade: O Papa-Léguas é uma ideia. E pior, é uma ideia do Coyote.

Todos conhecem essa cena clássica. Todos somos Coyotes. Temos nossos Papa-Léguas inalcançáveis simplesmente por não serem reais. Mas não ser real em nada diminui nossos desejos e objetivos, e lá vamos nós de cara contra túneis falsos que a gente sabe que são falsos — foi a gente que pintou! — só para se esborrachar na pedra e botar a culpa na ACME.